terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Jorge e Olga





Jorge Amado adorava Olga!

Olga Francisca Régis ou Olga do Alaketu (Salvador, 192529 de setembro de 2005) foi uma iyalorixá de Candomblé do Terreiro Ile Mariolaje em Matatu de Brotas, Salvador, Bahia.
No final do século XVII, durante a expansão do Daomé sobre o reino de Ketu, no reinado de Akibiohu, duas netas do rei foram seqüestradas e vendidas como escravas na Bahia. Uma delas era Otampê Ojarô que, após nove anos trabalhando como empregada doméstica teria fundado, já alforriada, o Terreiro do Alaketu.
Mãe Olga era filha de Dionísia Francisca Régis, descendente de Otampê Ojarô, herdeira da linhagem real africana Arô, do antigo reino de Ketu, ex-Daomé, hoje área do Benin, na África Ocidental. Também foi batizada e crismada pela Igreja Católica.

Eternamente Olga




















O Terreiro do Alaketu, Ilé Axé Mariolajé, Ilê Maroiá Lájié, é um terreiro de Candomblé, foi fundado por Maria do Rosário, Otampê Ojaro, descendente da Familia Real de Ketu. Também conhecido como Casa de Mãe Olga do Alaketu.
O Alaketu é uma comunidade que a sucessão do sacerdócio se processa sempre dentro da línhagem de descendência direta de sua fundadora.
A quarta sacerdotisa a ocupar o trono desta casa dedicada a conservar a tradicão mais pura do candomblé foi a iyalorixá dona Olga Francisca Regis (Oyáfúnmi), conhecida internacionalmente por ter filhos de santo em outros países da América do Sul e na Europa.



Terreiro do Alaketu ou Ilé Maroialaji Alaketu, Iyalorixá Olga de Alaketu, localizado à Rua Luiz Anselmo, 67 – Matatu, foi fundado em Salvador, Brasil, em 1636. Existem ainda todos os documentos.
As primeiras donas do Alaketu eram gémeas e foram capturadas na beira do rio de Minas Santé, que eram fundos do reinado do Ketu. Vieram para o Brasil não como escravas e ali foram criadas até a idade de dezesseis anos, quando voltaram para a África.
Casaram com 22 anos de idade e voltaram para o Brasil abrindo então o terreiro do Alaketu no dia 8 de Maio de 1616. A dona do Alaketu, que fundou o terreiro, chamava-se Iyá Otampé Ojarô, e a irmã chamava-se Iyá Gogorisa. Sua filha chamou-se Iya Acobiodé. Esse é o primeiro nome que tem qualquer pessoa que seja a primeira filha de um reinado em Ketu.
Depois de Acobiodé vieram dois filhos homens de nome Babá Aboré e Bábá Olaxedom. Baba Aboré foi pai de Obá Oindá, que quer dizer “mulher de rei”, Todas as mulheres desta família tem nomes de Iyaba e os homens de Obas, pertencentes ao reinado de Ketu. Informação dada por D. Olga de Alaketu
Tradição
Vivaldo da Costa Lima "A tradição oral da casa sugere sua fundação no fim do sec.XVIII. O documento oficial mais antigo ligado à casa é a escritura do terreno da roça extraída por ocasião do inventário do neto da fundadora da casa em 1867.
A tradição diz que o terreiro foi fundado por uma africana originária de ketu, no Daome, que veio para o Brasil com a idade de 9 anos, recebeu o nome de Maria do Rosário. Seu nome africano era Otampé Ojaro. A roça foi consagrada a Oxossi – um dos antigos e principais orixas de Ketu – e a casa de culto construída na roça foi dedicada a Osumare.
Otampe Ojaro a fundadora e primeira mãe do Alaketu era filha de Osumare, orisa nago intimamente associado ao arco-íris. Conta a tradição da casa que foi este orisa quem se apresentou no mercado de escravos “na figura de um senhor de posses, alto e simpático” e comprou Otampe Ojaro e sua irmã gémea que com ela viera, alforriando-se em seguida. Otampe Ojaro voltou mais tarde para África onde se casou com Baba Laji em nome de branco “Porfírio Regis”.
Voltou então Otampe Ojaro á Bahia onde comprou o terreno da roça – “por seis patacas” – e fundou o terreiro a que deu o nome de Ilé Maroialaji. A tradição da casa fala no rapto das duas irmãs “em um riacho perto de ketu” pelos daomeanos numa das suas incursões predatórias."
A genealogia de Olga Francisca Regis remonta a cinco gerações, e os claros na sua diagramação foram explicados por se referirem “a pessoas que não tiveram muita obrigação na casa”.
O nome Ojarô, uma abreviatura de Ojá Aro, é o nome de uma das cinco famílias reais conhecidas em Ketu e de onde ainda são escolhidos os Alaketu, num sistema rotativo.


(fonte: Wikipedia)

Album de fotos























Imagens de Olga do Alaketo - Reprodução permitida -

Mãe Olga do Alaketu, criada de acordo com os costumes africanos, foi iniciada aos 12 anos de idade, no Ilê Axé Maroiá Láji, em Matatu de Brotas. Antes de ser iniciada no candomblé, trabalhava com pintura, tecelagem e bordados. Aos 79 anos, a yalorixá passa seus conhecimentos a filhos, netos e bisnetos.
A mãe-de-santo conta que, em paralelo ao candomblé, teve também uma criação católica e sempre freqüentou a Igreja. "Eu fui batizada e crismada, e minha tia foi criada em um convento", explica.
Mãe Olga teve 12 filhos biológicos, mas apenas seis estão vivos. Eles sempre acompanharam a mãe nas tarefas do candomblé e cresceram seguindo a religião. Foram iniciados ainda criança e todos ocupam cargo no terreiro. "Minha relação com eles, dentro do axé, é de acordo com as regras africanas. Em casa, eles tinham obrigações com os estudos e com o trabalho", explica.
No candomblé, a yalorixá diz que não existe diferença na maneira de amar e tratar os filhos biológicos e os filhos-de-santo. "Uma yalorixá deve ter tanto amor pelos filhos-de-santo quanto por aqueles gerados por nós. Sempre peço a Deus por todos eles, que tenham saúde, paz e prosperidade, em qualquer lugar", diz mãe Olga. "Os orixás são meus educadores. Foi para eles que vivi 79 anos e ensinei a meus filhos a acreditar na força de Deus e dos orixás", explica.
Educação
A yalorixá compara a forma que foi criada, na década de 20, com a educação dos dias atuais. Mãe Olga conta que foi rigorosa com a educação de seus filhos e critica a educação dos jovens na atualidade. "O dever de um filho é obediência e respeito aos pais, o contrário do que se ver hoje. Os valores estão se perdendo com a criação moderna", diz.
Mãe Olga alerta para os pais terem mais cuidados com os filhos. "A violência está cada vez maior. Não se deve privar a diversão, mas é preciso saber para onde vão e com quais companhias", afirma. "Peço que tenham fé em Deus, na Santíssima Trindade e nos orixás".


sábado, 1 de março de 2008

Pessoa-de-candomblé


Pessoa-de-candomblé. Na África, tem os católicos que são "feitos de santo", que têm obrigação, mas acontece uma coisa, meu filho - isso eu digo, por que eu sei, e Vivaldo da Costa Lima também, mas outros que estão aqui, eu não sei se conhecem também a África -, existem os católicos que são de candomblé, existem aqueles católicos que não são de candomblé, nem conhecem, porque, na África, você me perdoe o que eu vou dizer, não é como no Brasil. No Brasil todo mundo "faz santo", todo mundo abre uma casa-de-candomblé. No mundo inteiro tem uma casa-de-candomblé, em todo lugar que você chegue. E, na África, existem africanos, nascidos e criados lá, que não sabem nem pra que lado vai vodum, nem Orixá. Então, eles se entregam ao catolicismo. Quando acham eu e outros mais, eles vêm procurar saber aquela história. E vão procurar, então, o povo deles, para saber o significado do candomblé. Não conhecem o outro lado católico, mas eles sabem rezar e se entregam a Deus. Então, eles dizem: "Sou católico".


Também, na África, eles são fechados. A festa não é pública, isto é, público para quem precisa e vai, porque é muito retirado, é muito longe. Então, vai quem tem necessidade, acredita, não só os que vieram de outros lugares, mas os que são nascidos lá. Todos vão, mas é muito fechado, realmente. Agora existem aqueles católicos que se separam do candomblé, como aqui, também no Brasil. Existe muita gente que diz: "Sou católico", e não procura saber nada do candomblé, por que acha que é uma coisa que não pode ser. Mas aqueles que estudam, vêem e conhecem, eles procuram o candomblé, quando nada, para conhecer, para saber uma história, para saber contar. Se vocês me permitem, eu tenho, aqui, uma irmã, que não é brasileira, é alemã, mas o estudo dela lhe deu oportunidade de conhecer a minha "casa". Ela está andando pelo Brasil, saiu da Alemanha para este fim. Está aqui. Está tomando todo o conhecimento católico, que ela já tem, e do candomblé, tanto da parte de jeje, como de Angola, como dos protestantes, do Jeová, porque ela está fazendo esta história. Ela se interessa. Já outros, como há aqui, no Brasil, não se interessam em saber.

Olga fala de Oxóssi


Como pode ser Oxóssi o mesmo São Jorge, visto que São Jorge foi rei da Inglaterra e viveu na Idade Média, enquanto Oxóssi foi muito anterior à Antiguidade Clássica e nunca viveu na Inglaterra? Esta questão de tempo, de Roma para a África, é questão que nós não podemos dizer a respeito de idade, porque, dentro da divindade Jesus Cristo, ou o Sacrifício, tem todas as divindades, com todos os nomes. É como na África. Os africanos plantaram pedras, árvores, ferro, uns, na água, outros, no fogo, no vento, e empregaram o mesmo nome: um Oxóssi, outro Xangô. Então, você vê a característica de Oxóssi, que é um caçador, na parte da África. Cada um usa uma ferramenta, cada um usa uma coisa. E este São Jorge de que você está falando, tem a simbolização de quê? De uma caça, que foi uma serpente, não é isso? Ele representa um lançador, que é o desencanto. Também, o da África tem aqueles ferros, aquele arco e uma lança, como Obaunlu tem e foi sacrificado também com uma cobra muito grande que ele não chamava de serpente, chamava aricoã. Foi o mesmo sacrifício que Oxóssi fez na África, na beira de um lago, com uma lança, porque aquela cobra ia fazer mal pra ele, e ele, com o oder que tinha, lançou a cobra, e a cobra se enrolou na lança.

Você encara isso como uma transposição de espíritos, em épocas diferentes? Encaro, não como um espírito qualquer, mas um espírito que seja elevado, para ser um Orixá, e que vem fazer o bem no mundo, no corpo de uma pessoa.

O sincretismo, por exemplo, Oxóssi-São Jorge, é uma consequência da colonização? Aqui no Brasil, quando eles chegaram, não podiam trazer nada. Então, eles faziam os sacrifícios escondidos. Iam para a Igreja, não porque fossem obrigados, mas, muitos, como meus antepassados contavam, iam para a Igreja, para levar os senhores. Então, eles não tinham a quem implorar, não tinham em quem ter fé. Eles tornaram a fé num simbolismo, como você vê, Nossa Senhora da Conceição, São Jorge, São Jerônimo. Quando eles chegavam lá, iam ver na Bíblia por aqueles mesmos sacrifícios, faziam comparação, acendiam velas no chão, correspondentes ao Deus, que é um só.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A voz de Olga


Eu tenho minha nacionalidade africana, como todos sabem. E quem é católico, como você está dizendo que eu sou católica, e tem muita gente aí que eu acho que é católica também, então, nós não servimos a dois deuses. O Deus é um só. A diferença é o nome, porque os católicos chamam Deus, Jesus. Tem a Trindade, que é um corpo de Deus só. Assim, nós do candomblé chamamos esses Orumilá, que é a Trindade, não é Oxalá, e chamamos também o próprio Jesus de Obatalá. O pessoal fala que Obatalá é Oxalá. Ele é Oxalá, porque é o que cobre o mundo, o que nós estamos. Portanto, nãoservimos a dois deuses. O que muda é o nome. Eu me dou com vários padres, tenho também boas relações com D. Timóteo, o Abade de São Bento, com o Cardeal D. Eugênio Salles. Nós conversamos sobre religião. Eles nunca expuseram uma coisa dessas para mim. Aliás, eles procuram saber a história fundamental da África no Brasil e do Brasil na África, mas nunca me falaram em dois deuses nesse mundo.

Nação Queto


Os africanos traduziram essa história do orixá, na África, com santos, no Brasil, por uma circunstância, através da história imediata tanto na Bíblia Sagrada, quanto africana, e que eu tenho em minha casa. Então, eles, aqui, no Brasil, quando chegaram, foram semelhar as histórias uma com a outra. Realmente, Oxóssi se dá o nome de São Jorge, mas cada Oxóssi tem um nome na África, e cada igreja tem um nome também correspondente a Oxóssi, como existe o São Sebastião, o São Jorge, Santo Expedito, São Pastorinho. Bom Jesus dos Milagres, por exemplo, não é Oxalá, é Oxossi. É a velha história, são comparados assim, mas um é caçador, outro é o que tem a si toda a responsabilidade do mato, do pasto. Por isso, o nome é Oxóssi.

sábado, 13 de outubro de 2007

Tudo começou na África


Há trezentos e oitenta e oito anos que do Axé do Alaketu - onde reinou Oya Fumin, Iya Olga do Alaketu, Iyalase do Ilê Maroialaje - em cada geração sai uma mãe-de-santo (zeladora-de-santo). É uma história muito antiga, que começa pela África.

Lá no reinado de Ketu haviam duas princesas, filhas gêmeas do Rei, que batizou suas meninas de Iya Komosobe e Otampe-Ojaro. Certo dia as belas meninas foram colher pedrinhas de ouro nas margens de um rio próximo ao castelo onde moravam, quando foram agarradas por dois comerciantes de escravos que as puseram num navio com destino a Salvador, na Bahia. Lá chegando as meninas foram postas à venda. Foi então que apareceu um homem alto que, segundo mãe Olga, era o mesmo de Oxumaré. Esse homem misterioso comprou as escravas e lhes deu alforria.

Essas meninas sobreviveram e, aos 18 anos, voltaram à Africa, ao reinado de Ketu, onde permaneceram até os 21 anos. Lá Otampe-Ojaro casou-se com Babalaje ou Baba-Olaje. O casal voltou ao Brasil onde Babalaje recebeu o nome de João Régis e Otampe-Ojaro adotou o nome de Maria do Rosário. Por três patacas, dinheiro que não existe mais, o casal comprou uma terra e Otampe-Ojaro fundou, em 8 de maio de 1616, o Alaketu. Até hoje o Alaketu, onde está o Ile Ase, a roça, está como ela plantou, na rua Luiz Anselmo, em Brotas, Cidade Alta, Salvador Bahia, num lugar chamado Matatu Grande.

A segunda geração: João Régis, filho de Otampe-Ojaro, sacou-se com Ode-Akobi, no Brasil chamada de Maria Francisca, e teve dois filhos Jacó e José Gonçalo Francisco Régis. Este último casou-se com Omi Sile, chamada no Brasil Maria Silvéria. Eles tiveram doze filhos formando a terceira geração, da qual só duas crianças sobreviveram: Dionisia Francisca Regis, que era a mais velha e João Regis Neto. Então Dionísia, já conhecida como avó Dionísia, recebeu o Oiê das velhas. Sabem o que é o Oiê? É um título, um posto que épassado como herança para outra pessoa da família.

Quem herda o Oiê se compromete a cumprí-lo, respeitá-lo e passá-lo para quem possuir a capacidade de tê-lo. Alguém que tenha conhecimento e condições de exercer o Oiê com altivez, dedicação, conhecimento, amor e sabedoria. Obá Wenda, Dionisia Francisca Regis, foi uma grande zeladora de santo. Seu irmão João Régis Neto casou-se com Maria Francisca , mãe de uma única filha, Etelvina Francisca Regis, que também fez suas obrigações em 1918 aos 16 anos e casou-se aos 21 anos com Matheus Cassiano dos Reis. Etelvina não recebeu o cargo, o Oiê, que continuou com a avó Dionísia que zelava pelo Alaketu, passando mais tarde o cargo diretamente para mãe Olga Francisca Regis - Oya Fumin, que reinou sabiamente no Alaketu, no grande Ase.

O Santo é quem escolhe. Se a pessoa tiver o mesmo odu da pessoa que plantou o Ase, essa será a escolhida.

Olga do Alaketu por Jorge Amado




Elas são princesas, são rainhas, essas mães-de-danto da Bahia. Rainha é Olga do Alaketu, filha de Roko e de Yansã, dengue, malícia e beleza. É uma sacerdotisa e uma vedete ao mesmo tempo. No exercício do seu sacerdócio, à frente de um dos candoblés mais serios e importantes da cidade, o Alaketu, Olga é perfeita nas obrigações, na conservação do ritual, no comando das filhas e dos ogãs e na intimidade dos orixás.

Não pode haver beleza maior do que sua dança quando, cavalo de Yansã, se transporta ao mundo mágico onde reina sobre a guerra e os mortos. As festas do Alaketu são magníficas.

Olga é a Yansã mais poderosa da Bahia.

Fora dos limites da casa-de santo, onde recebe os aflitos e os carentes, joga os búzios, responde a consultas e zela os orixás nos pejis, quando despe o traje de baiana e enverga a última criação de Denner, é uma artista desfilando, uma embaixadora do mistério da Bahia.

Personalidade marcante, uma das grandes mães-de-santo da nova geração que vem ocupar o vazio deixado pelas inesquecíveis Maci, Aninha, Senhora, Ruinhó, Simpliciana. Dessa grande geração, apenas Menininha persiste. Entre as sucessoras, Olga do Alaketu é a primeira.

(Texto de Jorge Amado)